By Vera Lúcia de Souza
Graduada em Psicologia (Centro de Pós-Graduação
em Psicologia Aplicada CPGPA/ 1976) e em Administração
Pública (Escola Brasileira de Administração Pública
EBAP/ 1999) na Fundação Getúlio Vargas. Especialista
em Dinâmica de Grupo, formada pela Sociedade Brasileira de Psicoterapia,
Dinâmica de Grupo e Psicodrama ( 1988 ).
Terapeuta existencial. Consultora em RH. Experiência em Desenvolvimento de Equipe. Prática gerencial nas áreas de RH, Planejamento Estratégico e Tecnologia Educacional. Docente em programas empresariais destinados ao desenvolvimento de competências gerenciais cognitivas e interpessoais. Docente em Cursos de Pós-Graduação (MBA e Especialização em Recursos Humanos e Gestão) na Escola Brasileira de Administração Pública - EBAP, na Escola de Pós-Graduação em Economia - EPGE e no Instituto Superior de Administração e Economia ISAE Amazônia e Mercosul - da Fundação Getúlio Vargas. Apresentação de trabalhos em Congressos, Simpósios e eventos similares nas áreas de Psicologia, Filosofia e Administração. Co-autora da publicação SOUZA, Maria Zélia de Almeida & SOUZA, Vera Lúcia. Gestão de Recursos Humanos. Rio de Janeiro, SENAI/ DN, 1998. Atualmente, interessada na pesquisa de temas vinculados aos desafios a serem enfrentados pelo mundo do trabalho e pela força de trabalho no século 21, bem como às tendências relativas ao gerenciamento de Recursos Humanos. e-mail: verasouza@openlink.com.br |
Cerca de um bilhão de seres humanos estão desempregados ou subempregados em todo o mundo e sem muita perspectiva de voltar a se empregar na abertura do próximo século." (1)Apesar dos avanços científicos conquistados, este século deixará um doloroso legado ao século 21 - o agravamento do problema do desemprego. Questão urgente a ser enfrentada, face ao sofrimento humano que provoca.
Outrossim, a gravidade deste problema não se revela de modo uniforme com a mesma intensidade. Estados Unidos, Japão, Inglaterra, Holanda, Nova Zelândia, por exemplo, não atravessarão o século com altas taxas de desemprego. Estes países têm gerado oportunidades de trabalho à população, mantendo a taxa média de desemprego em aproximadamente 4,8%. Em contrapartida, na Alemanha, França e Espanha, a taxa média de desemprego é significativamente mais alta situa-se em torno de 15%.
Frente à visível disparidade das taxas de desemprego, inúmeras recomendações, fundamentadas em abordagens distintas, têm sido adotadas em busca de soluções para o problema do ajustamento entre a procura e a oferta de trabalho.
"Mínimo de intervenção do Estado e o máximo de liberdade para as forças do mercado ", advogada pelos adeptos da teoria econômica do laissez-faire."Ativação de políticas governamentais e estimulação da demanda por bens e serviços " , segundo os simpatizantes do keynesianismo.
"Máximo de estímulos para a criação de empresas e uma efetiva formação de capital humano por meio de uma educação básica de boa qualidade e programas de treinamento voltados para a profissionalização." ( teorias de oferta ) Reformulação das leis do trabalho, na reforma do sistema de negociação coletiva e redução do poder dos sindicatos," (2)
Apesar de as intervencões adotadas privilegiarem ângulos distintos do problema, estas não têm sido capazes de solucionar, ou mesmo atenuar, adequadamente o desemprego e o subemprego. A resolução para o aumento crescente do desemprego parece demandar mudanças de várias naturezas.
A solução do problema do desemprego e do subdesemprego constitui um dos maiores desafios da humanidade. Trata-se de um problema de causas múltiplas e inter-relacionadas. De nada adianta atacar uma sem atacar as outras.(3)Em 1996, o relatório "O Maior Desafio do Sindicalismo no Mercado Global", apresentado no 16 Congresso da Confederação Internacional de Sindicatos (ICFTU), alertou para o fato de que o " desemprego em massa e pobreza são um intolerável desperdício de recursos e uma perigosa ameaça para a coesão social."Para quem está empregado, a transformação de direitos rígidos em direitos negociáveis constitui uma fonte de incerteza indesejável que os leva a resistir às mudanças que são necessárias. (4)
Para muitos, a economia globalizada e a modernização tecnológica são considerados vilões responsáveis pelos altos índices de desemprego. O alvo das críticas são as visíveis transformações que estes fenômenos acarretam. A diminuição do número de pessoas que trabalham em emprego fixo, o aumento do trabalho temporário, as demandas por talentos inexistentes destacam-se entre as consequências decorrentes das inovações da tecnologia e da organização do trabalho, segundo os críticos.
Tema controvertido, os impactos da globalização e da tecnologia no mundo do trabalho exigem aprofundamento, para evitarem-se afirmações levianas e superficiais. Compreender, em nível mais amplo, a relação histórica entre tecnologia, produtividade e emprego torna-se fundamental.
Alguns advogam que os impactos da tecnologia destroem e constroem simultaneamente oportunidades de trabalho.
No Brasil o emprego no setor bancário encolheu 50% no período de 1986-96. A automação teve grande responsabilidade nesse processo. Entretanto, essa mesma automação abriu novas oportunidades de trabalho nos campos da informática e telecomunicações assim como estimulou atividades financeiras no setor não-bancário: cartões de crédito, seguradoras, crédito direto ao consumidor, etc. (5)Davis, Haltiwanger e Schuh ( 1996 ) (6), apesar de afirmarem que as máquinas reduzem o número de trabalhadores, sinalizam que tais fenômenos estão continuamente destruindo e criando postos de trabalho.
Outros especialistas no estudo do trabalho defendem a tese de que o problema dos excluídos é resultante da ausência de políticas públicas adequadas para amenizar este problema mundial.
Frente aos gigantescos desafios a serem enfrentados, face às metamorfoses do mundo do trabalho, cabe perguntar: Será que os trabalhadores de modo geral estão preparados para enfrentar as exigências do mundo de trabalho emergente? Será que as instituições preocupam-se com a implementação de condições para atender as necessidades individuais e sociais? Especificamente, qual a situação do Brasil?
II. O Mercado de Trabalho brasileiro na última década
À semelhança de outros países, o mercado de trabalho brasileiro, visceralmente afetado pelo processo de abertura da economia brasileira, pela incorporação de inovações tecnológicas revolucionárias, pela adoção de novas formas de gestão, pelo impacto das relações de trabalho, vem sofrendo significativa redução na oferta de postos de trabalho. Além do desemprego, os impactos destas variáveis têm provocando efeitos de curto, médio e longo prazos no mercado de trabalho brasileiro como informalidade, obsolescência ocupacional, deslocamento setorial e regional do emprego.
Aumento crescente das taxas de desemprego com alta incidência: os jovens e as mulheres.
Na década de 80, acreditava-se que o crescimento do emprego era função exclusiva do crescimento econômico. A oferta de mão-de-obra crescia praticamente no mesmo ritmo do crescimento da população brasileira. A estrutura etária era também estável. A população economicamente ativa crescia na mesma velocidade da população total. A participação feminina na população economicamente ativa era relativamente pequena e as taxas de atividade da população masculina eram aproximadamente constantes, ao longo do tempo, para os grupos etários entre 20 e 54 anos.
Entre os anos de 1950 e 1980, segundo diferentes estimativas que usavam dados censitários, havia uma certa estabilidade no mercado de trabalho, sob a perspectiva do nível de emprego. As discussões centravam-se em questões redistributivas, no papel do salário mínimo para a distribuição dos rendimentos e nos processos de segmentação do mercado de trabalho (formal/ informal). Os economistas não se preocupavam com o papel das instituições no mercado de trabalho. As propostas de política de emprego se restringiam às tentativas de estimular o crescimento econômico.
Atualmente, esse quadro mudou de modo significativo. A oferta de mão-de-obra vem sofrendo alterações, com significativa redução na oferta de postos de trabalho. Fato agravado pela redução do ritmo de crescimento da população e do rápido aumento do ingresso dos jovens e das mulheres no mercado de trabalho.
Oliveira ( 1997 ) e Cavalcanti de Albuquerque (1997) destacam que a população economicamente ativa (PEA) vem aumentando 2,2 % ao ano. Ritmo previsto para se manter até o ano 2005. Prevêem um aumento de 73 para 78 milhões de pessoas no ano 2000, principalmente, face ao ingresso das mulheres no mercado de trabalho. "A demanda por trabalho aumentará em cinco milhões ao longo dos próximos três anos, o que significa mais de 1,6 milhões de empregos por ano." (7)
O gráfico a seguir revela quantos
têm sido atingidos pela destruição de postos de trabalho,
no Brasil, na década de 90:
TAXAS MÉDIAS DE DESEMPREGO |
ANOS | (%) | ANOS | (%) |
1989 | 3,5 | 1994 | 5,06 |
1990 | 4,28 | 1995 | 4,64 |
1991 | 4,83 | 1996 | 5,42 |
1992 | 5,66 | 1997 | 5,55 |
1993 | 5,31 | Fonte: PME/ IBGE |
Segundo o IBGE, o número de pessoas ocupadas aumentou, entre 1992 e 1996, em 2,645 milhões (4,0%). A ocupação agrícola foi declinante no período (- 1,853 milhões), mantendo a tendência de perda de importância relativa e absoluta na ocupação total. Tais dados revelam que a mais importante fonte de oportunidades de trabalho no país encontra-se nas atividades não agrícolas.
Crescente informalização da força de trabalho, conjugada a um processo de terceirização da ocupação.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED do Ministério do Trabalho, foram eliminados cerca de 2,560 milhões de empregos, do mercado formal - onde situam-se os trabalhadores protegidos por contratos de trabalho e pelos estatutos públicos - entre janeiro de 1990 e dezembro de 1997.
Cabe notar que, segundo as regras do mercado formal, todo trabalhador na legislação brasileira deve ter um contrato individual e um contrato coletivo de trabalho. Os termos dos contratos individuais de trabalho que o trabalhador firmou durante toda a sua vida ativa devem estar registrados nas carteiras de trabalho, emitidas pelo Ministério do Trabalho. Estes devem obedecer a um conjunto mínimo de normas vigentes para todos os trabalhadores.
Por sua vez, os contratos coletivos são considerados um complemento dos contratos individuais de trabalho. Todo trabalhador deve ser representado por um sindicato que negocia contratos coletivos de trabalho para toda uma categoria profissional, os quais são aplicados a todos os trabalhadores desta categoria quer sejam ou não sindicalizados.
Os contratos coletivos não podem contrariar
as normas definidas pelos contratos individuais de trabalho, apenas aprimorá-las.
Destacam-se como significativas:
O declínio do trabalho formal pode ser explicado sob vários ângulos. Merecem destaque a substituição doméstica de bens comercializáveis internacionalmente por importados, o processo de terceirização dos serviços pela indústria, produzindo uma ampla reestruturação produtiva e conduzindo a transferência de postos de trabalho do setor formal para o informal.
Hoje, a expansão do trabalho informal atinge, aproximadamente, 60% da PEA(8). Simultaneamente há redução da participação de trabalhadores permanentes (trabalho formal), principalmente, na indústria de transformação, construção civil, comércio, finanças, apoio às atividades econômicas, transporte e comunicações.
Especialistas do trabalho no Brasil argumentam que o fortalecimento deve-se principalmente aos elevados encargos sociais (102% ), à rigidez do quadro legal (a CLT tem quase 1000 artigos) e ao modo restrito de contratação do trabalho (prazo indeterminado em sua maioria).
Esse encolhimento guarda uma íntima relação com a Constituição federal de 1988 que elevou os encargos sociais incidentes nas contratações legais em cerca de 40% e estreitou ainda mais o campo de negociação entre as partes... A CLT tem quase 1.000 artigos e, no entanto, uma só forma de contratar mão-de-obra pelo contrato de emprego por prazo indeterminado com 102% de encargos sociais.(9)... O Brasil não possui fórmulas intermediárias de contratação para abrigar as novas modalidades de trabalho (por projeto, subcontratado, teletrabalho, etc.).
Ou se contrata, pagando 102% de encargos
sociais; ou se contrata, pagando 0%. Não é à toa que
o trabalho no setor formal dimunui e no informal aumenta.
... A rigidez do quadro legal, o excesso de encargos sociais, a impossibilidade de negociá-los e o potencial conflitogênico do sistema brasileiro explicam, em grande parte, a explosão do mercado informal, que já beira os 60%. " (10)Cabe notar que, paralelamente à predominância da mão-de-obra pouco qualificada no setor informal, há considerável parcela de mão-de-obra qualificada com condições de atuar por conta própria, devido ao fato de deter capital humano e instrumentos de trabalho capazes de elevar a produtividade e os rendimentos.
Baixo investimento em treinamento por parte dos empregadores e dos empregados.
Uma provável origem desta situação parece ser a crescente expansão de contratos de trabalho de curto prazo e de poucos vínculos. Face à permanência limitada no emprego, nem empregadores nem empregados estão dispostos a pagar por treinamento. Daí o baixo nível de investimento em treinamento e o decorrente baixo nível de qualificação da mão-de-obra. De modo geral o treinamento no emprego limita-se à capacitação específica e indispensável.
Assim sendo, o mercado de trabalho gera um grande número de empregos de baixa qualidade, visando atender a uma mão-de-obra pouco qualificada e, por decorrência, incapaz de adaptar-se às novas condições econômicas e tecnológicas.
A baixa escolaridade da força de trabalho brasileira constitui-se em uma séria desvantagem em uma economia aberta e competitiva uma vez que os novos paradigmas tecnológicos e organizacionais demandam uma força de trabalho com maior nível de qualificação.
É necessário diminuir o descompasso
entre o crescimento da produtividade e do emprego. Nas economias em processo
de inserção competitiva, essa é uma questão
crucial. É preciso aumentar a produtividade para ganhar competitividade
mas, também, é necessário elevar o nível e
a qualidade dos empregos gerados, fazendo com que a globalização
possa traduzir-se em melhores condições de vida para os trabalhadores.
No mundo desenvolvido, cerca de 10% dos postos de trabalho estão em permanente estado de criação e destruição. Em linhas gerais, os empregos migram e os trabalhadores acompanham esta migração.
Aumento crescente do subemprego.
No Brasil, ao lado do emprego aberto - pessoas que estão totalmente desocupadas convive um subemprego representativo. O brasileiro que não tem como se sustentar no desemprego sujeita-se a qualquer tipo de ocupação que o remunere no nível de sobrevivência.
Mais de 90% dos postos de trabalho eliminados no Brasil entre 1994 - 96 eram ocupados por pessoas sem o primeiro grau completo.
Estudos recentes afirmam que tanto a realocação quanto a mudança de profissão dependem, em grande parte, da educação básica do trabalhador.O mundo moderno registra uma demanda crescente por trabalho qualificado. Já foi o tempo em que a mão-de-obra barata e não-qualificada era uma vantagem competitiva. Hoje é uma grande desvantagem.A empresa só pode acompanhar a velocidade meteórica das transformações tecnológicas se contar com trabalhadores educados.Já foi o tempo em que a meta da empresa era tornar-se competitiva. Hoje, ela tem de se manter competitiva. Para tanto, empregados e empregadores precisam se educar e cooperar entre si. Só é possível vencer a guerra externa, da competição, acabando-se com a guerra interna. A cooperação intra-empresarial é essencial.A educação ganhou importância em um mundo permeado por um intenso deslocamento entre ocupações, empresas e setores. Não se trata de ter adestramento, mas sim uma boa educação. As novas tecnologias e métodos de produzir exigem trabalhadores com lógica de raciocínio, comunicação fluente, capacidade para transferir conhecimentos de uma área para outra e competência para trabalhar em grupo."Cabe, porém, questionar se o futuro caracterizado como o mundo da educação, anunciado no Jornal da Tarde, no dia 7 de maio de 1997 - " O mundo do futuro já chegou. É o mundo da Educação!" (13) - chegou ao nosso País. Complementando o título da notícia, esse periódico afirmava que mais de 90% dos postos de trabalho eliminados no Brasil entre 1994 - 96 eram ocupados por pessoas sem o primeiro grau completo, demonstrando o forte impacto da educação na manutenção do trabalho e da remuneração.
Infelizmente, segundo o Perfil do Eleitor
Brasileiro 1998, a situação educacional do brasileiro
é a que se segue:
NÍVEL DE INSTRUÇÃO | SEXO FEMININO | SEXO MASCULINO | NÃO INFORMADO | TOTAL | % |
Analfabeto | 4.429.896 | 4.070.344 | 24.210 | 8.524.450 | 8% |
Sabe ler e escrever | 11.545.242 | 13.109.471 | 152.120 | 24.806.833 | 23% |
1º Grau Incompleto | 17.961.923 | 19.105.878 | 42.906 | 37.110.707 | 35% |
1º Grau Completo | 4.465.578 | 4.506.060 | 15.346 | 8.986.984 | 8% |
2º Grau Incompleto | 6.041.133 | 5.213.849 | 6.886 | 11.261.868 | 11% |
2º Grau Completo | 5.325.771 | 4.081.118 | 13.179 | 9.420.068 | 9% |
Superior Incompleto | 1.100.473 | 1.095.276 | 2.409 | 2.198.158 | 2% |
Superior Completo | 1.791.301 | 1.882.097 | 3.822 | 3.677.220 | 3% |
Não Informado | 146.760 | 141.090 | 11.949 | 299.799 | 1% |
Totais | 52.798.077 | 53.005.183 | 272.827 | 106.076.087 | 100% |
A situação no Brasil é
bem distinta, afirma Pastore: os trabalhadores têm em média
4 anos de escola. Nosso índice de analfabetismo, embora tenha sido
reduzido de 24% para 17% nos últimos dez anos, ainda mantém-se
excessivamente alto para enfrentar os desafios do mundo do trabalho futuro.
No setor industrial, uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria constatou que os trabalhadores que chegaram a completar a 6ª série do primeiro grau em escolas públicas têm enorme dificuldadepara escrever corretamente, se expressar com clareza e fazer as quatro operações. Isso lhes restringe o sucesso nos cursos de formação profissional (CNI, 1996 ). (14)Para demonstrar a importância da capacitação, os dados mostram que, entre 1994 e 1996, 90% dos que perderam seus empregos não tinham o primeiro grau completo (Mtb/ IPEA, 1996). A educação não gera emprego, é claro, mas facilita a retenção e a realocação dos trabalhadores no mercado de trabalho." (15)Frente à triste constatação da situação educacional no Brasil algumas questões se impõem de imediato:
Considerando ser a educação uma vantagem competitiva, estará o Brasil apto a concorrer em nível de igualdade com outros países que têm um perfil de escolaridade da população mais elevado?
Estão sendo priorizadas ações
políticas para se enfrentar esta realidade visivelmente constrangedora?
III. Perspectivas
para 1999
Prevê-se que, face à recessão
que se acentua, principalmente, por causa da desvalorização
cambial, as perspectivas para o ano 1999 são sombrias:
Infelizmente, à semelhança do que ocorre em outros lugares do mundo, as inúmeras intervenções que vêm sendo adotadas, até então, embora tenham privilegiado ângulos distintos do problema, não têm sido eficazes para solucionar adequadamente, ou mesmo atenuar, o problema do desemprego e do subemprego no Brasil.
O Núcleo de Trabalho do Centro Internacional para a Educação, Trabalho e Transferência de Tecnologia (SENAI/ Ciet)(26), apoiado na análise das trajetórias, até 1995, dos trabalhadores desligados da indústria em 1989, ressalta a importância de se qualificar o trabalhador brasileiro, através de programas de reconversão profissional, de modo a se obter aumento nos níveis de empregabilidade.
Apesar disso, o programa do atual governo Fernando Henrique Cardoso ( FHC) mantém, em sua estrutura básica, a crença de que a estabilidade da moeda e o crescimento econômico vão gerar empregos, principalmente, devido ao crescimento dos investimentos em infra-estrutura e na produção, que vêm sendo realizados pelas organizações multinacionais que estão participando do processo de privatização e concessões.
Uma outra solução que vem sendo debatida no Governo FHC para enfrentar o problema do desemprego refere-se à flexibilização do contrato de trabalho, de modo a possibilitar ajustes necessários à revolução tecnológica, à globalização da economia e às mudanças organizacionais.
José Pastore adverte que esta proposta enfrenta resistências no Brasil, principalmente, por parte de grupos politicamente poderosos e de minorias organizadas da população."Para quem está empregado, a transformação de direitos rígidos em direitos negociáveis constitui uma fonte de incerteza indesejável que os leva a resistir às mudanças necessárias." (27)Uma outra crítica à flexibilização da legislação trabalhista brasileira é a possibilidade de criar fortes incentivos aos contratos de trabalho de curtíssimo prazo e pouco investimento em treinamento e qualificação."...resgatar a dívida social não é tarefa para um governo .... enfrentar a verdade e chamar a sociedade para um grande mutirão, para superar a pobreza e a miséria de uma multidão de 100 milhões de esquecidos, exige coragem e firmeza.... (28).. é preciso subordinar a estabilidade da economia à prioridade das prioridades que é o ser humano e garantir-lhe a satisfação de suas necessidades básicas" (29)
V. A dimensão humana do Desemprego
A maioria dos debates vinculados ao desemprego revelam preocupação, quase exclusiva, com a manutenção da vantagem competitiva do País no contexto mundial. Outrossim, revela-se urgente enfrentar este problema sob a perspectiva do alívio do sofrimento humano, provocado neste final de século pelas metamorfoses do trabalho, visceralmente afetado pela globalização, pelas tecnologias revolucionárias, pela automação e pela cibernética..
O desemprego repentino dói. Exclui
o homem do contexto social e econômico em que vivia. Provoca a perda
da identidade, de sonhos. Elimina desejos de futuro. Preocupada com sentimentos
de culpa, inadequação, impotência, dentre outros, que
corroem a auto-estima e, por decorrência, geram cada vez mais sofrimento,
Viviane Forrester no início da publicação O Horror
Econômico questiona: Culpa? Por quê?
... milhões de pessoas colocadas entre parênteses, por tempo indefinido...com direito à miséria... à perda do teto... à perda de toda comiseração social... mergulhado no sentimento de vergonha...não é o desemprego em si que é nefasto,mas o sofrimento que ele gera... (30)O fenômeno do desemprego provoca efeitos cruéis, quer para a população com baixo nível de escolaridade, quer não
O fenômeno é planetário.Existem cerca de 120 milhões de desempregados no mundo,35 milhões dos quais nos países industrializados...Os tormentos do trabalho perdido são vividos em todos os níveis da escala social... Os executivos podem sofrer tanto quanto os trabalhadores menos qualificados." (31)Em certas ocasiões, desempregados são marginalizados, levando-os a crer que são os únicos responsáveis pela situação em que se encontram. Às vezes, são assaltados por sentimentos de incerteza, insegurança, dúvidas. Às vêzes, consideram-se indignos. Julgam-se através do olhar do outro. Sentem-se incapacitados, fracassados. Perguntam-se solitariamente: Por quê?
A ausência de respostas desencoraja
qualquer reação. Acirra o sentimento de ser indigno. Conduz
à submissão. Como diria Nietzsche, o medo e a culpa paralisam.
BIBLIOGRAFIA
CAMARGO, José Márcio. Flexibilidade do Mercado de Trabalho no Brasil. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1996.
FORRESTER, Viviane. O Horror Econômico. São Paulo, Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.
GALBRAITH, Jay R. Organizando para competir no futuro. São Paulo, Makron Books 1995.
MARTIN, Hans-Peter e SCHUMANN, Harald. A Armadilha da Globalização. São Paulo, Globo, 1996.
PASTORE, José. O desemprego tem cura? São Paulo, Makron Books, 1998
RIFKIN, Jeremy. O fim dos empregos: o declínio inevitável dos níveis dos empregos e a redução da força global de trabalho. São Paulo, Makron Books, 1995.
SOUZA, Maria Zélia de Almeida Souza e SOUZA, Vera Lúcia. Gestão de Recursos Humanos. Rio de Janeiro, SENAI/ DN, 1998 ( Série SENAI Formação de Formadores ).
1. PASTORE, José. O Desemprego tem cura?. São Paulo, Makron Books, 1998.
8. PEA - População Economicamente Ativa
9. A Europa tem em média 60% de encargos sociais; os integrantes do Mercosul, cerca de 50%; o Japão, 11,8%; os Tigres Asiáticos, cerca de 10% e os Estados Unidos, 9%. ( PASTORE, 1997 ).
10. Fonte: Itens da Constituição e CLT. PASTORE ( 1997 )
11. No Brasil, nas duas últimas décadas, esta mão-de-obra caiu de 32% para 26%. À semelhança, embora de modo menos acentuado, nos Estados Unidos e na Europa este índice situa-se em torno de 5%, revelando a mesma tendência.
12. Brasil avançou aproximadamente 25% no período de 1976 a 1995 e continua avançando, rumo ao mercado de trabalho de serviços.
16. Fonte: Economista Márcio Pochmann do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.
19. Fonte: Shyrlene Ramos de Souza, Chefe de Departamento de Emprego e Coordenadora da Pesquisa Mensal de Emprego ( PME ) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE )
20. Fonte: Pesquisa Mensal de Emprego ( PME ) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE )
25. Fonte: Ruth Vilela, Secretária de Fiscalização do ministério do trabalho
26. Fonte Internet em 15/08/98. Documento do Núcleo de Trabalho do Ciet. Estudo avalia empregabilidade do trabalhador.
28. Fonte: "Análise da Conjuntura" documento que a Confederação dos Bispos no Brasil - CNBB discutiu na sua 36ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em Itaici, São Paulo, cuja sinopse foi veiculada na página da Internet http://www.osbcenter.com/asef/informe.htm em 15/08/98.